O desafio da saúde: como motivar a mudança

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Heloiza Lopes de Oliveira

Neste ano, chega ao Brasil o livro Os comportamentos na área da saúde: Compreender para melhor intervir, uma versão adaptada para o contexto brasileiro da obra      franco-canadense lançada em 2012, que esclarece como e por que as pessoas decidem mudar seu comportamento e que meios são necessários para motivar alguém a adotar um comportamento mais saudável. Essa adaptação é resultado da participação de Gaston Godin no programa de professor visitante, em 2013, na Unicamp, e conta com a colaboração de outros autores e profissionais da área da saúde.

Gaston Godin, especialista em saúde comunitária, contribuiu significativamente para o avanço do conhecimento no campo da psicologia e dos comportamentos em saúde. Ele é conhecido pelo rigor científico de seu trabalho e goza de grande influência internacional. De acordo com a Université Laval, onde atualmente Godin é professor, seus trabalhos, citados mais de 4700 vezes nos últimos cinco anos, abordam uma impressionante variedade de comportamentos, incluindo atividade física, dieta, uso de álcool e tabagismo.

O livro Os comportamentos na área da saúde: Compreender para melhor intervir, organizado pelo pesquisador, é voltado para a melhora da precisão e da eficácia das intervenções (ou campanhas) dos profissionais de saúde que buscam motivar a mudança de comportamentos relacionados à área. Compreender e planejar para agir é a premissa básica que guia esse trabalho, pois esses profissionais são confrontados diariamente com a necessidade de intervir para ajudar indivíduos e comunidades, o que torna indispensável a criação de um bom plano de ação que seja baseado em dados precisos.

A obra é dividida em quatro partes: teorias, intervenções, aplicações e métodos. Na primeira parte são apresentadas teorias que permitem compreender as etapas de mudança no comportamento dos indivíduos, dado que saber o motivo pelo qual alguém fuma ou para de fumar, por exemplo, colabora na elaboração da intervenção. Uma dessas teorias é a de predição. Ela busca saber se um comportamento será adotado ou não, uma vez que nem todos adquirem ou decidem realizar práticas saudáveis por motivos de saúde. Como destacado no livro, “na chegada da primavera, as pessoas que têm um leve sobrepeso estarão mais motivadas a adotar uma atividade física ou uma alimentação menos rica em calorias, a fim de melhorar sua imagem, e não para evitar problemas de saúde”.

Os pesquisadores estabelecem meios de gerar a intenção de mudanças nos comportamentos dos indivíduos e assim conseguir motivá-los a ser mais saudáveis. Há três determinantes da motivação: a autoeficácia, os resultados esperados e os fatores socioestruturais. Quando esses requisitos são atendidos, há maior probabilidade de que se desenvolva a intenção de iniciar uma mudança comportamental.

Na segunda parte, discute-se a importância de intervir de forma eficaz para que seja possível modificar os comportamentos individuais relacionados à saúde. Motivar alguém a mudar não é algo fácil. Se as pessoas aderissem às recomendações dos profissionais da área da saúde de forma rápida, “todos os motoristas de automóvel usariam cinto de segurança, todos os nadadores passariam protetor solar e os dentistas estariam desempregados!”. Por isso, para que os indivíduos modifiquem seus hábitos de vida, é necessário um bom planejamento das intervenções.

Na terceira parte, discute-se a aplicação das teorias discutidas no início do livro e a sua eficácia. Os autores separam essa parte em dois capítulos que analisam a “aplicação das teorias de predição no caso dos comportamentos relacionados à saúde” e “no caso dos comportamentos associados às práticas clínicas dos trabalhadores da saúde”. Dessa maneira, os pesquisadores conseguem evidenciar as diferenças entre um comportamento e outro, pois um profissional deve ter um comportamento, dentro do ambiente de trabalho, que evite contaminações que afetem a sua saúde e a dos pacientes. Um não profissional, porém, deve adotar outros comportamentos em seu cotidiano a fim de melhorar a própria saúde.

Na última parte, destinada aos métodos e resultados, aborda-se a importância do uso correto das teorias e das formas de proceder mais adequadas, como o uso do questionário, que é um meio de se obter informações de qualidade, caso seja corretamente desenvolvido. Quando, por fim, já foi definida uma intervenção que vise a manter ou a favorecer a intenção e um determinado comportamento, há a recomendação por parte dos autores para que essas teorias e métodos apresentados no livro sejam utilizados de forma rigorosa na formulação do projeto de intervenção, uma vez que, satisfazendo as condições necessárias, os resultados serão melhores.

O trabalho organizado por Gaston Godin é claro e de fácil compreensão, pois, além da boa escrita, demonstra um amplo conhecimento dos comportamentos relacionados à saúde. A leitura dessa obra não é importante apenas para aqueles vinculados ao meio clínico, mas também para todos que tiverem curiosidade de entender o processo de elaboração das campanhas da área da saúde que buscam melhorar a qualidade de vida das pessoas.

capaOs comportamentos na área da saúde: Compreender para melhor intervir

 Organizador: Gaston Godin

Tradutor: Heloisa Beatriz Santos Rocha

ISBN: 978-85-268-1497-4

Edição:

Ano: 2019

Páginas: 344

Dimensões: 15,7 x 23

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